Canto do Taiguara

O CANTO Do Pássaro Mais Livre Do Planeta!

5.11.05

PESQUISANDO; GOSTEI, TRANSCREVO




MIGUEL AMARAL é colunista
Data Publicação original: 26/10/2005
end.: http://www.guiaro.com/coluna.php?codigo=34&codcol=3


Um cidadão talentoso e versátil

O período mais negro da História recente do Brasil, sem dúvida, foi a ditadura militar. Dentre os diversos dispositivos de controle do sistema havia a chamada censura prévia, destinada a evitar que qualquer sinal de sublevação, de contestação ou de sugestão à livre-manifestação chegasse ao público. Assim, as artes, bem como a imprensa, sofreram terríveis cortes e até perseguições. Nenhuma frase ou cena poderia mostrar um lado social de contestação. Seria subversão. E disso poderia resultar a prisão e até o desaparecimento do autor. Alguns preferiram deixar o país “espontaneamente” antes que o Estado tratasse deles. Vinicius de Moraes, Chico Buarque e Caetano Veloso são alguns exemplos.

Entre os grandes músicos que viveram e contestaram esse período havia um grande músico brasileiro. Chamava-se Taiguara. Vamos relembrar um pouco da vida dessa grande cantautor. Nascido em Montevidéu – Uruguai, mudou-se para o rio de Janeiro aos 4 anos de idade e, aos 15 anos, para São Paulo. Na vida adulta morou na Inglaterra, França, Tanzânia, Etiópia e Nova Iorque, trazendo, de cada lugar, um pouco da musicalidade local.

Nascido em uma família de músicos, muito cedo se dedicou a compor e interpretar, mostrando-se um artista de grande versatilidade.

Gravou samba, guarânia, pop-rock, ritmos africanos e baladas românticas, sendo essas últimas as que lhe projetaram nacionalmente. As de maior sucesso foram:

· “Universo No Teu Corpo” (Eu desisto, não existe essa manhã que eu perseguia...),

· “Hoje” (Hoje, trago em meu corpo a marca do meu tempo...),

· “Teu Sonho Não Acabou” (Hoje a minha pele já não tem cor...) e

· “Viagem” (Vai, abandona a morte em vida que hoje estás...).

Suas canções quase sempre eram marcadas por um sentimento socialista, de fraternidade humana, de evocação social, permeada de romantismo, traduzido no sensualismo homem-mulher. Atentar e tentar entender as letras de Taiguara é, certamente, um delicioso trabalho-passatempo. Observar a linha melódica de suas baladas, ricas em arranjos orquestrais – influência de sua estada na Inglaterra, onde estudou regência durante um ano e meio – também é um doce deleite. Em 1976 deixou de gravar baladas, dedicando-se a outros ritmos como os africanos, latinos e as guarânias, mas sempre incluindo um ou outro samba em seus discos.

Taiguara costuma ser lembrado por dois aspectos de sua vida: o político-social, como um indivíduo de tendência socialista e grande adversário da censura imposta pela ditadura militar; e o artístico, como um cantor e compositor de grande talento e vibrante versatilidade. Foi um artista muito festejado pelas emissoras de rádio entre 1968 e 1975. Faleceu em 1996. Hoje, está um tanto esquecido, haja vista a constante falta de valorização de muitos talentos da música brasileira, por parte dos programadores de rádio. Pode ser que seja por simples desconhecimento – eufemismo de ignorância. Mas ele merece, e muito, de nossa parte, ser lembrado, relembrado, admirado e respeitado.

Eternos cumprimentos a Taiguara!!!

Rodapé;
Jean D´Alembert, um dos criadores da Enciclopédia, disse uma vez: “Toda música que não pinta nada é apenas um ruído”.